sexta-feira, 22 de maio de 2009

Quanto vale o espaço urbano?* How much does urban space worth?*

Curitiba fez planejamento urbano associado à mobilidade e bogotá reconstruiu seu sistema de mobilidade. Agora é a vez de Belo Horizonte repensar seu planejamento a partir deste ponto de vista.

A principal premissa para análise do sistema de mobilidade e desenvolvimento de propostas de intervenção é que a mobilidade de uma cidade é fruto de sua dinâmica econômica e social e está a serviço dela. Logo, para compreender a mobilidade, deve-se conhecer os aspectos do desenvolvimento urbano e ocupação do solo que estão relacionados com ela.

A cidade de Curitiba é um bom exemplo de planejamento urbano associado à mobilidade. Desde a década de 1970, há compatibilização entre planejamento do uso do solo, transporte coletivo e circulação viária, conjugando trabalho, compras, escola, lazer, saúde, etc. A opção foi por uma configuração de cidade linear estruturada através de corredores que se consolidaram nas últimas décadas como se comprova por imagens aéreas.

Outra experiência exemplar é Bogotá, na Colômbia, cidade com mais de seis milhões de habitantes. No período de 1995 a 2000, a cidade de Bogotá passou por transformações estruturais significativas, onde o eixo principal foi a reconstrução de seu sistema de mobilidade urbana. O que se operou na cidade foi uma quase total modificação de sua fisionomia, com a recuperação do espaço público de pedestres (passeios, alamedas, entre outros), a construção de infra-estrutura viária, especialmente com a implantação de vias exclusivas para bicicletas, a recuperação de parques, canteiros centrais e, sobretudo, com a implementação do sistema Transmilênio, composto por faixas exclusivas para ônibus, pontos fixos de parada, ônibus articulados e alimentadores.

O sistema Transmilênio agilizou amplamente o deslocamento dos usuários de transporte coletivo e a mobilidade urbana cotidiana em geral, sobretudo nas horas de pico, reduzindo congestionamentos e diminuindo os tempos de deslocamentos. Isso foi possível também, em grande parte, pela introdução de programa de restrição à circulação de veículos, denominado pico y placa, que tira de circulação cerca de 40% da frota automotiva privada de segunda a sexta, nos horários de pico da manhã e tarde. Associado ao pico y placa, foi implantada proibição de estacionamentos em vias de uma grande área da cidade e estacionamentos públicos dentro das quadras. As condições sociais e econômicas da cidade foram extremamente impactadas pelo modelo de mobilidade adotado, com destaque para a significativa melhoria da segurança pública.

A utilização inadequada dos recursos é considerada um problema, pois muitas vezes nem o gestor nem o usuário têm noção de quanto vale o espaço urbano. Um exemplo claro disso é o motorista, que não contabiliza todos os custos, muitas vezes abusando da utilização do automóvel, o que contribui para o congestionamento. O espaço urbano também não tem um valor claro para o cidadão, que acredita que o sistema viário e o estacionamento devem ter sua capacidade infinitamente ampliada, e por isso o utiliza de forma desordenada e inviável no médio e longo prazo. A falta de integração de medidas ocorre desde o nível estratégico de decisão. Toda política a ser adotada no âmbito do sistema de mobilidade, como também nos usos do solo, deve ser coerente e articulada com as demais, de forma a funcionarem de forma integrada e terem maior eficiência, facilitando também a aceitação por parte dos cidadãos. Esse tema inclui a própria integração entre os modos de transporte existentes e desejáveis.

*Marcelo Cintra do Amaral é gerente de coordenação de Mobilidade Urbana da BHTRANS.

Fonte: (BHTRANS)

Curitiba has made its urban plannig associated to mobility and Bogotá rebuilt it. Now it's time for Belo Horizonte to reconsider its planning from this point of view.

The main principle of mobility system analysis and intervention proposals development is that one city mobility is a result of its social and economic dynamic and it works for it. In order to understand mobility is necessary knowing urban development aspects and use of space related to it.

Curitiba city is a good example of how urban planning is associated to mobility. There is a coordination between use of space planning, public transport, traffic, conjugating jobs, schools, shops, entertainment, health, etc. Curitiba's choice was for a linear shape structured with corridors, big avenues, that got importance as we can see by satellites images.

Bogotá in Colombia with 6 million inhabitants is another good example. During 1995-2000 period Bogota has past trough a complete make over. The main attitude was the reconstruction of its urban mobility. What happened changed for complete city's shape by recovering pedestrians space (alleys, sidewalks, et ali), building road infrastructure, specially with bycicle paths, parks recovering, central site and mostly with Transmilenio's release, compound by busways, bus stops, two wagon and regular buses.

Transmilenio system has made public transport users travels and urban mobility in general faster, mostly during rush hour, decreasing traffic jams and time of travels. This was possible, mostly because car use restrictions named pico y placa, that excludes 40% of cars from the streets from monday to friday on morning and afternoon rush hours. Meanwhile government has stablished no parking on the streets in a great area of the city and the prohibition of parking lots inside blocks. Social and economic features of the city have been changing drastically since then, specially public safety that increased.

Misuse of funds is most of times a problem, many times citizens nor even authorities know how much urban space worths. Driver is one of those who do not know, not calculating cost of driving, abusing car, what helps to create traffic jams. Urban space has no certain value for common citizen that believes that roads should expand forever what is impossible in a medium/long term. Lack of integration may occur since the strategy choice. All policies should be addopted considering mobility by using space properly and in a coherent way according to other urban needs in order to be more eficient and making easier addoption among people. This also includes present transport system and desirable transportation.

*Marcelo Cintra do Amaral is coordination manager of urban mobility of BHTrans

Reference: (BHTRANS)

Um comentário:

  1. Marcelo Cintra fez uma análise perfeita em seu último parágrafo: os motoristas de carro sempre querem mais avenidas, mais viadutos, mais túneis. Mas acontece que isso é inviável a longo prazo, pois o uso de veículos é abusivo nas cidades brasileiras, o que faz com que mesmo cidades de médio porte tenham congestionamentos nos horários de pico, como São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, e cerca de 400.000 habitantes. Essa postura irresponsável tem que dar lugar a outra postura, mais consciente, de luta pelo transporte público de qualidade, e investimentos igualmente conscientes, pois não é justo o sistema viário receber investimentos bilionários, enquanto ótimos projetos de transporte públic, muitas vezes custando poucas centenas de milhões de reais, ficam sempre na fila de espera.

    ResponderExcluir